segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Transpirinaica

Foram cerca de 360kms feitos nos Pirinéus em etapas da famosa Transpirinaica de puro BTT com subidas de 35kms e descidas de 12 kms, onde se pode desfrutar a beleza da natureza e o respeito das pessoas que por lá andam. È de facto o local mais especial onde estive e onde espero puder regressar um dia.

O grande objectivo a que me propus foi a travessia de 9 ou 10 etapas em outros tantos dias, juntando-me para isso aos amigalhaços Nés, Ricardo e César, que iriam faze-la na íntegra em 15 dias.

Seríamos apoiados por uma Auto caravana, com condutor, que nos permitia alguma flexibilidade no cumprimento das etapas, podendo alongá-las ou encurtando-as conforme as incidências do dia, tornado também a logística bem mais simplificada, nomeadamente não termos que carregar alforges. Tudo bem preparado, com pessoal habituado a estas grandes aventuras era o mote para tudo correr bem. Mas, quem anda nestas grandes rotas, sabe que nem tudo corre conforme o previsto.
E os percalços começaram ainda antes de eu ter chegado. A bicicleta do César deu um sem fim de problemas, originando cerca de 10 furos em dois dias, justificado pelo sobre aquecimento dos aros (travões V-brake), apesar de ser uma causa ainda um tanto ou quanto duvidosa, pelo menos para alguns, dos quais me incluo. Correntes partidas, pedaleiro gripado, tudo lhe aconteceu, deixando-o ao desespero.
O Ricardo lá apanhou uma daquelas constipações, talvez originada pela chuvada caída em dois dias.
O Nés lá se foi safando, apesar da suspensão da frente não estar muito famosa, e o condutor deu de frosques, por motivos pessoais deixando uma logística que se teria que resolver. O Ricardo decidiu fazer as manhãs de bicicleta e as tardes de condutor, deixando apenas um meio-dia para dividir por entre os três.
No meu primeiro dia, arrancámos três de Bagá ficando o César a fazer de condutor, para uma manhã feita a subir durante cerca de 23kms em estradão com pedra, levando-nos dos 800m a uma altitude de 1925m, descendo depois até Tuixen através de estradão, single e estrada, local onde almoçámos, na auto caravana, uma bela saladonga, para continuarmos até Argestues, que fazia parte da etapa seguinte, de forma a tentar recuperar o atraso de 1 dia motivado pelos problemas mecânicos mencionados.
Pernoitámos no parque de campismo de Seu d´Argell, que fica mais para trás, local onde eu e o Nés nos encontrámos com o Ricardo e o César que entretanto foram a Andorra tentar arranjar a bicicleta. Foram cerca de 90kms feitos nos Altos Pirinéus, no meu primeiro dia. Nada mau.
No dia seguinte a auto caravana levou-nos ao local que atingimos no dia anterior e partimos daí em direcção a Sort, local definido para almoço. Nesse dia o Ricardo perdeu-se e fugiu um pouco do trilho, tendo-se dirigido à estrada o que facilita o encontro com um local, de forma a dar o melhor itinerário. E chegou primeiro que nós ao ponto de encontro definido com o César, que entretanto nos enviou um SMS da sua localização.
Depois do belo almoço e algum descanso, com a visita de alguns ao apetecido rio que nos ladeava, lá retomámos o caminho em direcção do próximo objectivo, Baiasca.
Antes dessa aldeia, dirigimo-nos a um bar em Arestui para beber algo e acabámos por trocar algumas impressões com o dono, um homem de cerca de 40 anos, apaixonado por desportos que praticava (BTT, motos, escalada, esqui), mecânico de profissão e que geria ali um albergue, que conhecia bem a zona e nos deu a entender o dia seguinte, não sem antes nos indicar a curva ideal para pernoitarmos, dado que o caminho para essas aldeias é por uma estrada onde apenas cabe um automóvel e não tem saída. Para dar uma ideia do isolamento, no Inverno costumam de habitar 7 pessoas em Arestui, sendo o “Tuxe?”(nome do granda maluco) um deles.
Lá ficámos no local indicado, onde nos contemplámos com a beleza do local, onde o luar no iluminava as silhuetas das montanhas que nos rodeavam. Perfeito… não apenas a temperatura como a lua nos ajudava.
O dia seguinte era o dia de maior ascensão, a 2250m e que desta vez, na companhia do César, já com a bike reposta e com o Ricardo a descansar, lá climbámos, inventei agora mm essa palavra anglo-lusitana, cheios de vontade até ao topo dos topos. E tudo correspondeu ao anteriormente indicado. É sem dúvida um local especial, onde não existem palavras nem fotos que consigam mostrar o sentimento de estar ali a observar a natureza.
Curiosamente foi o local onde nos cruzámos com mais bbtistas, desde um solitário que subia aos topos de automóvel, dormia numa tenda e subia e descia a montanha e de seguida ia para outro topo, até um grupo que fazia uma das várias rotas dos Pirinéus. Encontrámos também um maluco a fazer parapente e alguns jeeps e automóveis normais, apesar do mau piso, a curtirem o local.


Em locais de elevada altitude, onde poderá ocorrer mudanças bruscas de temperatura existem refúgios para quem é apanhado desprevenido por uma tempestade, e onde entrámos numa que tirámos uma foto para dar ideia da construção.

Ainda andámos uns bons kms por lá até começarmos a descer.












Sendo um terreno rochoso, onde predomina a ardósia, lá furámos os três em locais completamente diferentes, o que nos atrasou um pouco, mas nada que não fosse ultrapassável.

Como se costuma dizer; atrás de uma grande subida, há uma grande descida. 12kms sem parar, em estradão, cheio de pedra, a serpentear, até Espui, local do almoço (é aquela povoação bem lá em baixo). Lá fomos eu e o Nés, tendo o César ficado um pouco para trás de modo a desfrutar mais o local e também de forma a descer devagar com algumas paragens para não furar pelo sobreaquecimento, e lá chegámos, eu com um furo e um raio partido e 1 hora depois o César com dois furos, uma roda sem pneu e já farto da menina da vida da bicicleta. -“Já não ando mais nesta merda!”, dizia em desespero.




Ficou decidido irmos até Cabdella, onde pernoitámos num camping, pois o Nés começou a ter problemas de saúde.
No dia seguinte decidimos abortar a etapa, fazendo-a de auto caravana até El Pont de Suert, onde o roteiro que nos guiou indicava uma “tienda de bicis”, local ideal para arranjar a minha bicicleta e comprar uns sapatos que entretanto se tinha rasgado a sola e também, aguardar a recuperação do Nés. Apesar da loja ser bastante limitada e não dispondo daquele dia de mecânico, lá me safei noutra ao lado de eventos desportivos, acabada de abrir, e que tinha raios de diversas medidas.
Nesta localidade deparámos com alguns ciclistas com os mais variados problemas mecânicos, que demonstra bem a rispidez deste local.
Um dia depois do repouso e já com o Nés numa mega recuperação e cheio de disposição para continuar a volta, lá fizemos a ligação de El Pont de Suert-Escalona, tendo o almoço sido marcado para Seira.
Esta foi mais uma etapa de cerca de 90 kms que em alta montanha, grande parte em BTT, é bastante duro, como ficou provado no dia seguinte.
Esse dia fica marcado pela recaída e fadiga muscular do Nés que não conseguiu recuperar os seus índices físicos normais. Contudo, não foi por falta de vontade, pois ainda assim fez os 45kms que restavam até Sarvisé, que era o fim da 11ª etapa. E após alguma meditação e criação de diversos cenários, chegámos à conclusão que o regresso seria a única solução para não arriscar em demasia e não chegar a uma situação extrema, com muita pena de todos.
Para mim foi uma viagem com sabor agridoce, causado por todos os imprevistos e de não ter cumprido o objectivo, mas o concretizar de uma viagem de sonho, onde o prazer do BTT foi total, num local espectacular e acompanhado por pessoas extraordinárias, servindo também para mais uma lição de vida em que por muito planeamento que se faça, existem sempre imprevistos impossíveis de contornar, mas… Tudo está bem quando acaba bem.


Primeiras fotos em
http://picasaweb.google.pt/josealexss/Pirineus?feat=directlink


PS: as fotos do Nés estão mto melhores.

Aqui:





JAS

domingo, 29 de agosto de 2010

Maria - O Outro Lado da História

Se existe um “ ajuntamento “ de homens que praticam BTT e decidiram auto-denominar-se “ Fuga da Maria “, existirão, como calculam, as referidas Marias.

E, não falando por todas, posso assegurar-vos que existem Domingos de manhã ( e às vezes meia tarde ), que se transformam num verdadeiro inferno, sem paisagens, subidas, descidas e contemplações, mais propícios à passagem de um tornado ou a assemelharem-se à destruição gentilmente patrocinada por um terramoto.

Domingo ( um qualquer )…

7.30h – Toca o despertador. Raios partam os despertadores que tocam aos Domingos de madrugada. Raios partam os maridos que reclamam por se levantarem a esta hora para trabalhar mas continuam a levantar-se a esta hora aos Domingos, e a acordar as respectivas Marias.

8h – A porta bate. Raios partam quem saiu e me deixou acordada num Domingo de madrugada. Começo a rezar três Avê Marias e quatro Pai Nossos, na esperança que acreditem que sou religiosa e que as crianças durmam mais umas horas.

8.05h – O Alexandre reclama. Não tive tempo de rezar os Pai Nossos. A Daniela acorda e querem comer os dois. Choram e não sei a quem acudir primeiro. Começou o terramoto e ainda não posso fazer um balanço dos estragos.

8.10h – Detesto aquela bicicleta. Enquanto dou o leite ao Alex e a Dani continua a birra, penso no meio mais requintado para a destruir. Chego à conclusão que não existe um meio requintado mas sim rápido: atirá-la pela janela.

9h – Os dois mais calmos. Os três mais calmos… durante 15 minutos. Birra do sono do Alex. Não quer dormir na cama, não quer dormir ao colo, não quero deixar a Dani sozinha para o adormecer. Ela grita para a Dora, que não a ouve na TV, e o Alex grita porque quer dormir e a irmã não deixa.

9.30h – Dou-te até ao meio dia para chegares…

12h – A tentar sobreviver há 2.30h entre gritos, choros, biberões, bolsadelas e um turbilhão de brinquedos que se vão acumulando no tapete da sala.

12.15h – Sempre a mesma “ trampa “. Preciso de tomar banho e QUERO SAIR À TARDE. Dou-te mais 45 minutos.

13h – Será que as roupas das crianças e as minhas cabem todas naquelas três malinhas? Vou para a net à procura de um pacote emprego+ama+casa na aldeia.

13.30h – Desisto da ideia da fuga do Manel. É mais fácil arranjar discussão ou destruí-lo em vez da bicicleta. Agora penso em maneira requintadas de dar cabo dele, enquanto tento fazer o almoço com a Dani com birra e o Alex birrento. Não tenho tempo para pensar. Talvez o bom e velho rolo da massa, a postos atrás da porta, faça o trabalhinho.

 14h – SMS: “ traz almoço, não consigo fazer “. Resposta: nula.

14.30h – SMS de resposta: “ levo frango?”. SMS de retribuição: “ Vais é levar um frango! “. Ninguém anda de bicicleta 5 horas. Se alguém inventou o motor, porque raio existirá alguém que gosta de puxar uma burra a pedais?

15h – Exausta demais para o rolo da massa. A porta abre-se e entra o marido exausto demais para ouvir o ralhete. A desculpar-se com o furo do pneu, a queda de não sei quem, e a má disposição de alguém que teve que parar a meio.

Fim de Domingo. Contabilização dos estragos que o furacão/terramoto/tsunami deixaram no interior e exterior, um bocado porcos, de mim. Desisto de sair para satisfação de quem está do outro lado da trincheira. Perdi esta batalha mas não a guerra.

Até outro Domingo ( considerem que escrevi isto com ar ameaçador… ).

Lara “ Maria “ Fonseca

 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

viagem de sonho

Sendo eu um elemento do grupo e cheio de vontade de escrever (tenho que aproveitar, pois é mm muito raro), talvez mais pela ansiedade da chegada do evento, venho descrever o grande desafio a que me propus e se proporcionou com os malucos da Gulbenkian, que desde a alguns os anos fazem uma grande viagem de bicicleta nesta altura de férias e que neste agendaram fazer a Transpirinaica, ou a travessia dos Pirinéus. Enquanto escrevo, provavelmente o Nés, o Ricardo e o César, já deverão estar a fazer os primeros kms desse caminho, pois chegaram ontem ao inicio do caminho, após um dia inteiro de viagem na autocaravana do César, que será o veículo de apoio nesta aventura, conduzido pelo Alonso, que fará o importante papel de motorista, entre outros.
Quanto a mim, irei ter na 5ª etapa à localidade que pernoitam. Esta indefinição dependerá do modo como abordarem o caminho, do tempo que apanharem e obviamente da condição fisica, que a meu ver, será determinante no andamento diário das etapas, pois nenhum dos intervenientes passou mais que um dia a fazer etapas de (alta) montanha, apesar deles terem a tarimba de outras voltas e saberem o comportamento fisico nestas aventuras.
Apesar desta entrada tardia ainda irei fazer cerca de 2/3 do caminho, o que para mim e tendo em conta os 10 dias de ausência da familia e o tempo de férias seguido algo anormal na minha área, já é uma vitória puder participar neste evento.
Na 6ª feira irei apanhar um avião até Madrid, seguido do comboio rápido até Lleida e depois provavelmente o autocarro até ao local a combinar, juntando-me ao pessoal no final da tarde (espero eu). Pela curiosidade o bilhete de avião fica mais barato 19€ do comboio de Lisboa-Madrid, tendo ainda em conta que o avião demora 1.15m e o quim 9.30m.
Pela frente vou fazer cerca de 700kms, com 18000m de acumulado de subida, sendo o total de 25000m em 1000kms.
Vai ser sem dúvida uma das viagens mais marcantes da minha vida por isso terá mesmo que ser classificada como uma viagem de sonho, independentemente de todos as ocorrências que irão/poderão acontecer.
Voltarei para o relato.

JAS

sábado, 14 de agosto de 2010

Apresentação

Este blog vai ser a forma deste belo grupo de fugitivos, relatar voltas, o que lhes vai na alma e onde qualquer um tem a porta aberta para escrever o que quiser. A ideia foi do sr. Presidente, pois claro, e aqui estou eu a concretizá-la, através do 1º relato a partir da data da ideia.                            

JAS

Relato de um passeio - 1º post

Afinal não sei andar de bicicleta! Depois de tantos anos a pensar que já tinha aprendido, afinal já não uso as duas rodinhas laterais, o ultimo fim de semana provou que ainda sou muit(a) (à JJ) maçarico em cima da bike.
E o local onde descobri, foi naquele sitio que era suposto fazerem o novo aeroporto de lisboa, mas que afinal já não é...Ota.
Apesar de ser um local que, do grupo, poucos conhecem, e de estar muita gente de férias ou não puderam ir, lá nos juntámos 3 marmanjos (Rafael, Samuel e eu) e fomos ter com o marmanjo local (Marco), que nos desafiou a comparecermos nesse fim de semana, para fazermos o trilho do .... . O anfitrião, desde sempre, falou que era um trilho curto, com muito sobe e desce e tecnicamente exigente, não sendo perigoso. Sempre achei um pouco estranho dessa descrição de tecnicamente dificil, para um homem que saca cavalos só com uma mão (calma Rafael, que ainda só fizeste isso uma vez!) e raramente sai da bicicletas para transpor um obstáculo, o que despertara ainda mais a curiosidade de o conhecer.
Parados no centro da vila, diante um placard que identificava o trilho, dando informação sobre distancia, acumulado e sinalética, fizemos um pequeno briefing, com direito a cagada e discussão, e lá arrancámos.
Estava um dia bastante húmido e com muito calor, apesar de encoberto, percebendo-se logo que nos montámos na burra e começámos a subir. E logo nos primeiros 3/4 kms, começámos nas lombinhas e curvinhas que me puseram completamente maluco, pois não me lembro de fazer 10 metros em cima da bike, sem por o pé no chão. Incrível, esta falta de jeito, ainda para mais utilizando uma daquelas pulseiras milagrosas que não nos deixa dormir deitado, tal a energia positiva dos hologramas, desenvolvidos por um homem que trabalhou na NASA (acho que era oficial de limpeza).
E passado cerca de 1h15m lá começámos a rolar um pouco mais, isto depois do Samuel tanto se rejubilar com a minha prestação.
A partir de então, conhecemos umas subidas e descidas espectaculares, num trilho dominado por pedras muita vegetação e muita aventura.
Como era um percurso exigente tecnicamente e novo para 3, parámos diversas vezes quebrando bastante o ritmo, criando mesmo má disposição após tanto atrofio muscular.
Foram cerca de 16kms percorridos, com 600mts de acumulado, sendo, para mim, o traçado que por ser curto, classifico como o mais exigente tecnica e físicamente.
Faço nota à descida do posto de vigia à vila, feita em serpentina que é uma daquelas que não me vou esquecer, dando com ponto negativo as falhas de marcação do trilho, algumas inexistentes outras escondidas ou mal orientadas, mas  não tirando mérito a quem o fez gratuitamente querendo dar a conhecer umque afinala terra que não tem apenas pseudo aeroportos.


JAS