sábado, 12 de março de 2022

Uma Aventura em GRZ!!! ... ou GR33... ou GR Zêzere.

 

Como sabemos, tudo na vida é passageiro, "ALTO!!!" Exclama o Ricardo Rosa, enquanto pousa vagarosamente na mesa o seu copo de vinho rosé fresquinho e se levanta da sua cadeira tripé, caminhando em direção ao seu bólide de fabrico nacional que tanto estima. Tira a chave da pochete, carrega no comando, que faz abrir o fecho da porta, entra e insere a chave na ignição, tudo isto enquanto é observado por cinco marmanjos ansiosos por saber o que vem dali. Retira a chave, sai da sua carrinha acabadinha de ser lavada pela chuva, carrega novamente no comando numa sequencia indecifrável, volta a inserir a chave na ignição, roda-a e os 115cavalos começam a relinchar, quando se ouve … “É TUDO PASSAGEIRO, MENOS O CONDUTOR!!”

 E cá vamos em direção à Serra da Estrela, para a jornada anual que vamos mantendo presente, desta vez com um machibombo na traseira que carrega as meninas, devidamente acondicionadas e protegidas para um eventual ataque nuclear que poderemos enfrentar.


O objetivo proposto é fazermos, na integra, a Grande Rota do Zêzere (GR33 ou GRZ), em 5 dias em Btt, pela variante apropriada, e eventualmente experimentar algumas variantes pedestres, que percebemos no local, impossíveis de realizar.

Este passeio é um desejo com 4 ou 5 anos, e que fomos adiando não apenas pela logística difícil e necessária, como também pela catástrofe de 2017, que afetou grande parte do trajeto, tornando-se uma incógnita a sua viabilidade.

Esta GR é pouco comercial, havendo pouca informação sobre o estado dos troços, ou pelo menos achámos que as informações existentes, apesar de serem de um sitio oficial, poderiam não estar atualizadas. Contudo, no decorrer da viagem concluímos que à data, as informações eram atuais.


E digo isto, porque como o titulo será o que escrevi lá em cima, os googlistas todos que andem aí, ao pesquisar sobre o caminho, poderão se deparar com este maravilhoso sitio e podem ter paciência para ler estas merdas, que afinal também poderão servir para alguma coisa.

Pronto a partir daqui, já não interessa o que se vai dizer, pois agora é só asneiras e caralhadas (ai que saudades que tinha de as escrever!!!).

Bom, como já vai sendo da praxe, os organizadores lá traçaram o plano, reservaram as cenas, propuseram ementas e ainda houve quem se lembrasse de pedir emprestado um reboque e outro que fez bolinhos… assim escrito, parece que só o Carlos não fez nada, mas como ele também não vai ler isto, porque o texto tem mais do que 5 linhas, não faz mal esquecer-me da sua contribuição.

E tudo começou a ganhar forma, a partir do momento em que o irmão do bidébuchas se lembrou que, da outra vez que fez qualquer coisa parecida com a GRZ, levou um reboque para carregar as meninas, e que, não sei bem como, lá chegou a um amigo que nos emprestou o seu coiso. Combinado o dia para ir buscar o coiso, para a preparar e ensaiar, lá fomos todos juntos para pensar na forma prática e segura de as metermos lá dentro, não sem antes de terem ido dois eletricistas que, assim que viram uma ficha, tiveram que a desmontar e trocar e baralhar todos os fios da ficha de engate, para no fim dizerem que, se não fosse a sua experiencia profissional ainda estávamos à espera do coiso… adiante. Como este grupo está repleto de cientistas e gente de grandes ideias, incluindo maquinistas de cena, não foi fácil chegar à melhor solução… como sempre ganhou a ideia do mais persistente (teimoso como chamam alguns). E a ideia era simples… a Maria dorme no chão, tira-se o colchão da cama para aproveitar a esponja que se entala entre as bicicletas viradas umas para as outras e prensadas com fita de nylon, que se unem ao coiso, inserindo umas paletes de entivação, para não danificar as chapas laterais. Ensaiou-se mais ou menos a cena toda, prevendo que as 5 bikes iriam caber mesmo à justinha… e não é que couberam? …..

hum?

 Ah?

 O quê?

À pois foi!!!! Afinal foram só 4 bicicletas. Houve uma que ficou sem o guiador do lado esquerdo… tinha a mania que era mais rijo que uma camioneta e afinal não… e não foi o único!! Jasus!! Bom o que interessa é que ainda consegue andar de bicicleta, um pouco manco, é verdade, mas assim puxa estilo. Adiante, que o Carlos já adormeceu na 3º vez que está a ler este texto.

Com medo que as meninas fossem cortejadas pelos amigos do alheio, decidiu-se montar o esquema todo no próprio dia da viagem e até correu relativamente bem. Aprovados pela técnica da qualidade, já com o certificado emitido, às 9:46m metemo-nos ao caminho em direção à Covilhã.


13:36 chegámos ao snack bar Montes Herminios, para a melhor sandes de presunto com queijo da serra e sopa de coiso, que comemos naquele dia.


15:11 já estavam as bikes todas lubrificadas e prontas a rolar, uma visita ao parque da nascente do Zêzere, para a foto da praxe e 15 minutos depois, já estávamos a parar para apanhar bidons do chão que o Lapierre mandava para o ar…


16:51 primeiro furo.


19:05 primeira jeropiga!!  

E digna de registo, diga-se de passagem. No primeiro grande erro de navegação, deparámos junto de um pequeno lago à procura do track, quando uma alma caridosa nos ouviu e gritou lá do fundo, a indicar que a estrada era ali…Tivemos que descer um morro, e quando prontos para montar a bike, ouvimos…. “então e vai uma jeropiga?” Como não?

Enquanto uns pedalam, outros passeiam

Mais umas passadas e fomos surpreendidos com o nosso apoio. Abancados numa estrada de terra batida, mesa posta com uns snacks, umas minis e uns sumos para abrir o apetite do cabrito caseiro encomendado para a janta, pois já não nos encontrávamos muito longe.


1ª Pernoita – Tortosendo, numa quinta de turismo Rural, mesmo no meio da Vila com ótimas condições e um dono muito peculiar. 70Kms no primeiro dia, grande parte a descer, foi o mote para o melhor cabrito assado do mundo e também do Continente. Vinhaça biológica (há quem lhe chame isso e quem lhe chame de rasca) uns digestivos daqueles que fazem dançar um morto, e conversa para aqui, música punk para acolá, perto da 00:31 fomos para a caminha que amanhã é que vai começar o sofrimento!!


Dia 2 – Tortosendo – Alvaro – 84Kms

Antes de começarmos a pedalada, tento reparar um pequeno furo na roda da frente, detetado no dia anterior, que com a ajuda da piscina da quinta facilmente se idêntica a origem… válvula. Pontapé para a frente, murro na retaguarda, vai de embute, que daqui a 4 horas já estava a colocar uma camara de ar e a mudar o pneu porque o que lá estava tinha nhanha por dentro (parece tudo muito rápido, mas com este filme todo perdemos mais de 1 hora). Ainda com a Serra da Estrela a espreitar, fomo-nos afastando para sul, passando por caminhos completamente fechados de vegetação e interrompidos por derrocadas, que acabaram por ter alguma piada, ou não… um verdadeiro indício que esta Grande Rota é muito pouco frequentada e quem o faz, fá-lo por troços e não necessariamente todos. Aqui falta também, digo eu, algum investimento das autarquias em manter os troços minimamente em condições, para assim se conseguir promover este tipo de turismo, e publicitá-los devidamente e não apenas quando investem milhares em pontes e trajetos em madeira, conforme agora é moda (que também é a forma de chegar à comissão).

Lavagem automática Vegan

Após tanto esfreganço com a natureza, fomos surpreendidos pela imponente infraestrutura e vestígios de exploração de minério pertencente ao complexo das minas da Panasqueira – Cabeço do Pião. Mais interessante ficou, quando o caminho segue mesmo junto do Rio, ladeado, na nossa direita pelo mesmo e por um monte de brita sem fim, do lado esquerdo… verdadeiramente espetacular.


Um pouco mais à frente, estão os nossos comparsas numa mesa de piquenique, junto a uma represa de água, à nossa espera com um almocinho que soube a frango. 


Conversa animada, regada com rosé ou cerveja ou sumos de coiso, mudo o pneu conforme atrás referido (não o pneu de trás… foi o da frente que substitui, que por acaso trouxe porque o Bidé me disse: Tens um pneu novo? Então traz!) e por volta das não sei quantas horas, arrancámos, comigo furioso pelo tempo que perdi, o Nés a dizer para esperar que queria fazer um vídeo do nosso arranque, que passava por cima de uma ponte metálica, e eu a mandá-lo para um sitio, que não era o mesmo do que ele pretendia… O mau feitio vence sempre neste grupo! Bom sinal! É só malta tolerante (pelo menos 3 ou 4, ou 2 ou 3).  



Uma tarde com sobe e desce constante (como será até aos últimos 10kms do passeio), com destaque para a passagem do dique da Praia Fluvial da Lavandeira, onde deu para refrescar os pés, e os pneus do Mário. Também aqui a moral do bidébuchas se elevou com a superação de uma subida de nível técnico só para campeões.




Este dia terminou no final da tarde, curiosamente, também num local espetacular, onde utilizámos o machibombo para o transporte fácil da bikes até ao dormitório, localizado no parque de campismo de Oleiros, a 10kms da rota.
Mais uma refeição caseira, de carne grelhada e salada com tudo e com todos (acho que até tinha lavagante), bem acompanhado com coiso no nosso ganda Bungalow de 3 assoalhadas e meia casa de banho. Não fosse o gajo mais cagado do pelotão (pelo menos é o que demora mais tempo a tomar banho), ter escorregado na banana do Mário e partido o painel de azulejos do chuveiro, tinha sido uma noite tranquila.

 



Dia 3 – Alvaro – Bairro da Bouçã – 71Kms

Acordámos com o galo a ganir e os cães a cucuricar, ou seja, meio confusos com o que tinha acontecido no chuveiro do nosso bungalow, tomámos o pequeno almoço caseiro e ficámos prontos para perder mais 2 horas a tentar desenrascar o travão do Mário (não o da banana, que esse nunca o vimos), que no dia anterior já tinha falhado por inúmeras vezes. Ainda encontrámos o melhor mecânico lá da terra, mas mesmo sendo o melhor, não conseguiu resolver o problema sem substituir material (que não tinha). Ainda assim, travar só com uma roda não foi suficiente para mandar abaixo o Mário… quer dizer mandou uma vez ou duas, mas sempre a dominar e a não se deixar fraquejar.


Lá regressámos ao track com as bikes no machibombo, e chegados à partida, cruzámo-nos com um grupo que também estava a fazer o mesmo que nós. Meia dúzia de palavras, e lá retomámos o caminho, para a jornada mais dura da aventura. O calor apertava, as subidas eram ingremes e compridas, as descidas também compridas e trabalhosas, mas essas com mais diversão. A escolha da paragem para almoço era variável e adaptável às condições, encontrando-nos pontualmente e em locais estratégicos do troço para reforço alimentar. E íamos partilhando a nossa localização via WhatsApp para os comparsas de apoio monitorizarem a nossa posição.


E dessa forma também conseguimos pedir apoio quando necessário, como nesse dia, pois o Carlos teve uma fraqueza e achou que não devia forçar mais… e ainda bem que assim foi, porque fez os dias restantes e o que não fez só iria baixar a moral, porque depois de Pedrogão Grande, onde almoçámos (já por volta das 15:00), foi sempre a cascar rocha (que sofrimento!!! Ufa!)… no meio ainda consegui espetar uma pedra (!!) aguçada no pneu e com outra, bem maior, empenei o dropout.



Foi também um bom dia para os nossos companheiros explorarem novas capacidades da carrinha, testando-a em todo o terreno.

Não há fotos do TT, mas aqui fica o ponto de encontro da aldeia deserta

No local de encontro, como não havia rede e bateria no telemóvel, tivemos alguma dificuldade em nos encontrar-mos, mas com a ajuda de uma menina que por lá passou, que nos emprestou o telemóvel, chegámos ao encontro dos nossos companheiros para nos levar ao hotel que se situava em Figueiró dos Vinhos… ou não!!!... isso foi depois de jantar, que estava marcado com o amigalhaço César Nunes e a namorada, num restaurante onde a cozinha abre das 20:00 às 20:06…  


Dia 4 – Bairro da Bouçã - Trutas– 79Kms

Dia de aniversário do Bidérrompe. Com esse mote, lá fomos nós, todos animados e divertidos já com o Carlos em forma.


Num trajeto com mais estrada inicial (sempre pouca) e com mais ou menos dificuldades chegámos a Dornes, onde nos encontrámos para petiscar, não sem antes nos enganarmos e termos que descer e subir mais um monte, acrescentando mais 2 kms ao trajeto… nada demais.
Ainda deu para apanhar umas cerejas...huuummm

Estávamos numa fase de Pandemia, mas o movimento deste local não transmitia isso, tal a dinâmica do sitio.

Contudo, lá arranjámos um spot na saída da aldeia, onde ainda deu tempo para o nosso chauffeur pegar na ferramenta e afinar os rolamentos do machibombo, que também tem direito a mimos.

Siga que se faz tarde, vamos andando até ao próximo troço, numa fase em que começamos a questionar se iriamos conseguir cumprir o desafio, tal a lentidão em fazer os kms previstos.


E essa dúvida teve mesmo que ser enfrentada quando chegámos à Zabroeira.

Para este dia, planeámos acabar no Penedo Furado, indo dormir a Andreus. Com o ritmo que estávamos e o dia a acabar, tínhamos que tomar uma decisão… ou saltamos um troço e amanhã arrancamos de Penedo Furado, ou continuamos e fazemos o possível, e qualquer dia, talvez voltar para acabar o que nos faltou desta vez. Isto também porque o Nés tinha um compromisso em Lisboa que não podia falhar e para regressarmos todos juntos, o dia iria ser curto para cumprir os horários no dia seguinte.

Foi aqui que tivemos o sinal divino. Começamos a ouvir trovoadas lá ao fundo que se aproximavam cada vez mais depressa, até começar a chover e a cair granizo.


Estávamos no meio da selva, num caminho largo, com pavimento em terra batida, sem avistar nenhum abrigo, apenas arbustos e algumas arvores que não queríamos estar debaixo, pois os trovões continuavam. Parámos num local desabrigado, mas mais resguardado por um monte, debatendo o tema, "o que fazemos agora". Perdido por cem, perdido por Mil, o Mário arrancou, como verdadeiro coronel de armas, seguido dos soldados e eis que quando dobrámos o monte que nos protegia da chuva batida a vento, parecia que tinham aberto a porta numa inundação, tal a sua intensidade… ao ponto de numa subida de bicicleta, não ver a mais de 22,50m de distância (idêntico à imagem de apanharmos uma enxurrada na autoestrada).

Lá continuámos, já não havia nada a fazer, além de não nos deixarmos arrefecer, num troço sem manutenção, sem marcações, apenas teríamos que nos guiar pelo GPS, num local onde não se percebia o caminho, que era estreito, pavimento em pedra de xisto, sem margem para escorregadelas e com a bicicleta à mão, pois estávamos num caminho de cabras, não ciclável, no meio de uma encosta com o rio e uma queda à direita e um monte de pedras à esquerda. 

Passando uma ponte tipo romana, e continuando com o mesmo cenário, a meio da subida voltámos a ter estrada larga e ciclável, onde retomámos a cavalgada, sempre debaixo de chuva de intensidade irregular... até que começamos a ouvir vozes ao aproximarmos de uma povoação… lá estavam os nossos companheiros, juntamente com um individuo que nos olhava de uma forma incrédula como quem diz, “afinal estes dois tangarolas que dizem estar à espera de meia dúzia de marmanjos que estão a fazer a Rota em BTT que EU criei, num sitio que ninguém frequenta, e ainda por cima com um tempo destes, não me querem assaltar!!!” 


É verdade! Ali numa aldeia com 3 habitantes, fomos desencantar o sr. Eduardo Castro, co-criador da GRZ e adepto ávido de caminhadas, que tem aqui a sua casa de campo onde alberga o museu das suas recordações de caminhadas pelo Mundo… fomos desencantar, salvo seja… o Nés e o Ricardo é que com o seu trato social, chegaram ao seu encontro.


Depois de nos ver e perceber que afinal os tangarolas não tinham segundas intenções, o sr. Eduardo foi ganhando confiança e começou a abrir o livro… contudo, nós, os encharcados, só queríamos despachar as burras, vestir roupa seca e quente e ir para a pensão para nos reconfortarmos… e comemorarmos o aniversário do coiso.

  

Na falta de bolo de aniversário, arranja-se qq coisa



Como pensávamos que este dia chegaríamos a Penedo Furado, a pensão dista-se ainda mais longe do que o previsto, mas apesar do compromisso de Nés e do nosso compromisso para com o caminho, ficou decidido que amanhã voltaríamos a Trutas e tentaríamos concluir a Rota, com a possibilidade do Nés ter que nos abandonar mais cedo, para regressar a Lisboa de Quimboio (foi a nossa prenda de aniversário surpresa – o bilhete do comboio, que ele tanto adora).

 

Dia 5 – Trutas – Constância – 79Kms

Às 9:27 estávamos novamente em Trutas a tirar uma fotografia à placa do caminho, depois de ficarmos 15 minutos à entrada da aldeia


(onde descarregámos as bikes, porque o acesso era estrito e difícil para a carrinha com o machibombo), a admirar o único exemplar do planeta Terra a limpar a sua bicicleta com uma escova de dentes, sem se deixar pressionar por 5 homens a olha-lo fixamente e a pensar no vazio… “Uau, onde é que ele comprou aquela escova?”  

Sendo mais papista que o Papa, voltámos ao local da recolha de ontem, onde tirámos a foto para a posteridade, na esperança que o sr. Eduardo não nos ouvisse, pois o dia ia ser longo, o tempo contado e a vontade de acabar a GR era grande… Prontos para arrancar, lá nos encontrou e como bom falante que é, convenceu-nos a entrar no seu museu e a partilhar algumas das muitas aventuras que participou.


Apesar da vontade de ouvirmos algumas histórias e desafios, tivemos que arrancar para a ultima jornada que correu extremamente bem sob o ponto de vista mecânico e físico, mas não tão bem taticamente…

Tal não foi a excitação de ver alguém a fazer algo da sua criação, que o Sr. Eduardo fez questão de se cruzar connosco mais à frente.
PS: eu acho que ele ainda estava desconfiado de os mainantes terem outras intenções...

Este dia fica registado essencialmente pela passagem no Penedo Furado, que é um local, com cascatas espetaculares e onde tenho pena de não conseguirmos passar mais tempo.


Também pela paragem no Souto, onde estavam uns amigos a passar o fim de semana e que obrigatoriamente tínhamos que os ir cumprimentar e provar um copinho de verde fresquinho.



No meio, foi mais do mesmo… paisagens fantásticas, caminhos espetaculares e difíceis, tanto a subir como a descer, algum sacrifício, mais diversão e muita camaradagem... desta vez sem chuva.



Almoço num miradouro algures em Fontes

Curiosamente os últimos 10kms foram muito rolantes, essencialmente feitos em estrada, ao ponto da malta se questionar se estávamos no caminho certo.

18:30 chegada a Constância… hora do merecido mergulho no Zêzere.




Fim da Aventura… início do regresso. Voltar a montar o puzzle das bicicletas no Machibombo, desta vez mais à vontade (o material foi ganhando resistência) e ligar ao Nés a perguntar se ainda estava na paragem do Entroncamento… Boa, ainda está porque perdeu o comboio (Lol).



Desta vez vou deixar os agradecimentos a quem quiser comentar, porque já estou farto de escrever sem blasfemar e não me apetece e dizer mais um caralho.

 https://photos.app.goo.gl/j8TmNbfKYX7RwpJ46

JAS

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Venha de lá uma história

Ontem acordei com uma vontade imensa de dizer umas merdas e como não posso faze-lo no trabalho, venho aqui, neste blog habituado a esses conteúdos, satisfazer o meu desejo.

Claro que poderia perfeitamente abrir a janela do carro, enquanto atravesso a ponte Vasco da Gama em direção ao meu local de trabalho, e debitar uns impropérios à bicharada que habita no rio, mas depois penso que a malta da apanha da ameijoa não tem que levar com a minha má-criadice e com o meu mau feitio.

 

Apesar de durante a pandemia vigente não ter ficado em casa (ainda bem), tenho sentido falta de algum convívio que me permita soltar a minha angústia interior, provocada pelas tardes de sábado e de domingo, que nada faço porque não me apetece, e essencialmente porque o governo não me deixa fazer (adoro esta desculpa), além de ver séries e filme, acompanhados da minha garrafinha de 1,5l de água, mais um pacote de bolachas, uns tremoços, uns pistachos, uns quadradozinhos de chocolate, um geladinho, um pacote de batatas fritas, umas bolachas de água e sal, umas pipocas doces, uma maça ou outra peça de fruta metida no meio para não abusar das guloseimas e dos salgados, mais um iogurte e uns cereais, e quando fico mesmo cansado de me andar sempre a levantar, ora para comer, ora para mijar, um pão com manteiga para encher o bucho e ficar completamente cheio, de tal modo que até evito de arrotar, para a comida que está no estomago, há horas a tentar ser digerida, não sair em repuxo pela boca. Felizmente estou em casa durante a tarde, apenas ao fim de semana.

Admiro alguns que, nesta fase de confinamento, pegam na bicicleta e, esteja chuva, esteja sol, vão dar a sua voltinha ou maratona para manter e ganhar forma… ou outros que, como não andam à chuva, vão dar sangue. Sinceramente gostava de ser assim, apesar de desconfiar que esses gajos que vão dar sangue, apenas o fazem para trazerem um pacote de bolachas, uma vez que as filhas esconderam as que tinham lá em casa com medo que o pai as coma, ou até já me passou pela cabeça, com medo que o pai me convide para ir lá a casa.

“E porque é que em vez de estares a ver séries e filmes, e comeres aquelas porcarias todas, estás para aqui a escrever merdas sem jeito nenhum, a incomodares a nossa paciência e o nosso bem estar?” – perguntam vocês… ora aí está uma boa pergunta. É que isto de andarmos sozinhos, tem umas coincidências inexplicáveis e por incrível que pareça, encontramo-nos todos inúmeras vezes, ocasionalmente, durante a nossa volta individual de bicicleta. É verdade!!! E pelo que parece, são coincidências que não acontecem apenas às pessoas que envergam a tão bela e esfarrapada, e larga, e incolor camisola deste grupo de ciclistas. Agora até temos elementos que acontece isto duas vezes por semana, lá com uns amiguinhos que nem alcunhas sabem por uns aos outros… Isto das alcunhas, vem a propósito, do propósito de vir para aqui escrever umas merdas, uma vez que agora tenho uma nova alcunha. Deixei de ter a que tinha para passar a ter outra…

“Foda-se, mas estás para aí a empatar e dizer mais merda atrás de merda, e a quereres te armar em escritor misterioso (…)” (se fosse eu a dizer isto, invocava um nome de um escritor do género pouco conhecido, mas muito aclamado pela classe…, mas como quem está a dizer isto são vocês que não percebem nada de literatura, tenho que transcrever o que estão a pensar) “(…) e a demorares tempo comó caralho, para dizeres a tua nova alcunha!! Vais dizer ou não!? Olha que se demorares muito tempo, não leio o resto!!”

Bom, com essa ameaça (e depois sou eu que tenho mau feitio!!), a vontade que tenho é parar de escrever e ir para o sofá deitar-me e ligar a tv, mas como ainda estou a fazer a digestão do sushi com batatas fritas, vou continuar e fingir que não me interromperam o raciocínio… hum, onde é que eu estava?...

Já sei!! Portanto, eu tinha uma alcunha que alguém me colocou e depois alguém me colocou outra... isto depois de outros terem também ficado com novas alcunhas, nomeadamente o bidébuchas, o bidérrompe e o bidélentejano... e isto, numas dessas coincidências ocasionais de domingo, onde alguém, sinceramente nem me lembro de quem, mas desconfio, começou a fazer acrónimos (como se percebe, os nossos ajuntamentos são de uma vivaça e mordaz convivência cultural linguística, que já dá para perceber porque é somos tão poucos) e saiu disto.

E como me atribuíram o bidéstórias, tinha que vir para aqui escrever umas merdas para o outro me interromper o raciocínio, o outro mandar umas buchas nos comentários e para o alentejano dizer que não consegue abrir ou escrever na página.

Amplexos e ósculos!


JAS

quarta-feira, 24 de junho de 2020

EN2


Marco Km0 (está lá indicado, centro inferior), em Chaves


Uma vez de vez em quando, temos que nos armar em machos durante 2 ou três dias… ou se pretendermos ser machos, mas mesmos machos com os ditos no sitio, temos que sair de casa durante 4 ou 5 dias. E como já não sentíamos esse orgulho, profundamente másculo, há já 3 anos, sentimo-nos na obrigação interior, de nos desafiarmos a um projeto um tanto ou quanto parvo (para não dizer outra vez parvo), que se resume na travessia de bicicleta, de Norte a Sul do interior do nosso país, em 4 dias e meio, na tão aclamada e mítica EN2. Dizem, os pouco informados, que é a 3ª maior estrada do mundo, e assim mantenho essa descrição, para nos vangloriar ainda mais o feito herculano cumprido.

Este objetivo foi inúmeras vezes tema nas conversas domingueiras, durante alguns meses, intercalado com as conversas de indignação dos serviços da MEO e da NOS, que tanto debatemos semanalmente, e que fomos adiando, ora por falta de tempo de férias, ora por  coiso. E aproveitando a conjuntura mundial, que aconselha as pessoas ficarem em casa e evitarem ajuntamentos, lá decidimos que era a altura certa para o fazer… claro que não foi bem assim. No fundo só precisávamos de alguém com competência para organizar (não vou referir nomes).

Definida uma data que interessava e permitia a presença de todos, foi apenas necessário aquele click de alguém, que começou a tratar da logística… transporte, com apoio e dormidas. Era essa a grande incógnita, sobre a disponibilidade e reabertura das hospedagens, mas nada que um telefonema não resolvesse. E prontos, meios disponíveis, dormidas marcadas e pagas, já só faltava começar a pedalar.

Restava-nos aguardar ansiosamente que a data chegasse e preparamo-nos psicologicamente para aturar 4 gajos durante 5 dias…

Ainda houve algumas questões no ar… na carrinha cabem as 4 bicicletas, os 5 macacos e a bagagem?... e se chover, vamos? Qual o creme que põem no cu?

Chega o dia da abalada e abalámos… o motorista começou a recolher os passageiros, ajudado pelo pendura que desmontava e encaixava o puzzle na carrinha, o alguidar recebia a bagagem e com mais uma precinta e uma volta na fita, passadas 4 horas e meia, um quarto de garrafa de medronho, uns bolinhos caseiros feitos pelo je (já disse que não ia dizer nomes), já estávamos em Chaves à procura de restaurante para almoçar. Começou a parte mais interessante da viagem… as vaquinhas e os brindes. Nota: se o leitor não sabe o significado de vaquinha, não pergunte à esposa, sff (basta escrever nos comentários, que alguém do grupo traduz).

A montar o Puzzle

Sempre boa disposição

Já em Chaves, na vaquinha e nos brindes


Fotos da praxe no inicio da EN2, creme no cú, óleo nas bicicletas e iniciámos a epopeia até Vila Real.


Este primeiro trajecto, com cerca de 63kms, foi uma ligação primordial, uma vez que conseguimos aproveitar o dia para avançar no mapa sem grande prejuízo físico e permitiu reduzir os quilómetros das restantes etapas, já extensas o q.b. Tempo soalheiro, vento de frente, fica o registo para memória.

Prova de vida...algures entre Chaves e Vila Real


Chegados ao centro de Vila Real, instalámo-nos na pensão da pernoita e do repasto. Vai mais uma vaquinha, mais uns brindes aos golos do glorioso, outros aos do Portimonense e vamos dar uma voltinha a pé para desmoer. Vai um Gin tónico para ajudar ao convívio umas histórias de outras andanças e siga para a caminha, que amanhã é que vai doer.

Mais um brinde

Saída de Vila Real


Renovado o creme no cú, acrescentado óleo nas correntes das bicicletas, por volta das 9 horas já rolávamos. Por esses caminhos fora, começa a chover… aquela chuva molha parvos, fora de casa em tempo de quarentena, sabem? Essa mesmo.

Assalto em Peso da Régua


Passámos em locais espectaculares com paisagens lindas, pelo menos é o que dizem, porque na verdade não dava para ver quase nada, mas ainda assim, deu para ir curtindo o caminho, nas estradas serpentiadas e no atravessamento de rios e pontes, ou melhor pontes sobre rios, que esta estrada nos oferece. 

Ponte sem fim


O marco mais fotografado do trajecto


Pena o tempo não ter permitido a contemplação total dos locais por onde passámos, mas ainda assim deu para perceber a beleza natural desta zona do país. 

Lamego


Paragem em Viseu para almoçar uma bifana especial e comprar umas travessas para os sapatos e siga até Santa Comba Dão, onde pernoitámos e nos encontrámos finalmente com o carro de apoio, após uma incursão à Serra da Estrela para buscar gelo para colocar na geleira.

Viseu


Feitas as apresentações ao dono da casa alugada, localizada à entrada da cidade, fomos contemplados por um jantar digno de rei… acho que estou a exagerar um pouco, mas fica bem… feito pela pessoa que não posso dizer o nome. Mais umas jolas e uns brindes, deu-nos para ir passear um pouco, para tentar um cafezinho, cafezinho esse que evidenciou que afinal há um elemento do grupo que não só vê mal ao perto, mas também vê mal ao longe.

No repasto da casa
Ainda dizem que em Santa Comba Dão não há toureiros...

Após o descanso de 150kms, lá nos levantámos com a certeza que desta vez a chuva foi ali e já vem. Mais umas horas a levar com ela, lá tive que recorrer a um óleo desenvolvido por engenheiros da NASA, daqueles que é uma mistura de um óleo de corrente normal, com uma dosezinha de óleo de maquina de projecção de filmes americano e uma pitadinha de teflon, para calar o estalido dos pedais, que a água tanto gosta de evidenciar.

Douro


Este 3º dia, foi o mais duro, não apenas pela sua extensão e acumulado de subida, mas também pelo acumulado de subida e da sua extensão… 195kms, com 3.000m de acumulado de ascensão. Foi um dia que passou num ápice, mas muito vagaroso (ainda estou todo embaralhado), tal a variedade de locais por onde passámos e sem dúvida o mais abrangente em termos de dificuldade. 

Até parece um profissional

Almoçámos em Góis, numa pastelaria com os melhores croissants mistos do mundo, cantámos pela primeira vez os parabéns a uma pessoa que não posso dizer o nome, e passados 409kms, já estávamos em Abrantes.

Marco de Góis

Praia fluvial do Sinhel - Alvares

Melriça - Vila de Rei

Vista de Abrantes para Sul

Chegados a Abrantes e após alguma dificuldade em encontrar a casa, pois fica bem lá no cimo, junto da cruz da igreja (já depois do campanário), partimos de imediato para além de Tomar, onde nos encontrámos com os nossos companheiros de Fátima, ao abrigo do plano de confinamento da DGS que permite um ajuntamento de 10 pessoas, num espaço reservado e bem arejado, com comida e pinga boa e desde que um dos elementos seja aniversariante.

Malta de Fátima que nunca se nega ao convívio e boa disposição


Mais 48 quilómetros de regresso à estadia (de carro, convém mencionar, para não pensarem que me estou a esticar) e vamos dormir que já passa da 01:00.

A juzante da barragem da Aguieira

Naturalmente que no dia seguinte apenas começámos a pedalar às 10:00… e ainda para mais no dia menos interessante sob o ponto de vista de paisagens e tipo de estrada. Entrámos no Alentejo e como sabido, a seguir a uma reta (que não é plana) vem outra reta (que também não é plana). Foi um dia difícil psicologicamente falando, acentuado pela boémia da noite passada, mas como verdadeiros machões, lá fomos rolando com mais ou menos paragens (numa dessas ainda fomos gozados por alentejanos que nos confundiram com um rebanho), até ao destino – Torrão. Localidade originária do grande ciclista que não posso dizer o nome, atualmente com 84 anos, detentor de várias proezas individuais, como a viagem de Portugal Luxemburgo em bicicleta, 24 horas consecutivas a pedalar em rolo, entre outras… pelo menos assim o venderam. Nunca tinha ouvido falar nesta localidade, mas o certo é que não me vai sair da memória, não pelas façanhas do sr. Ciclista, mas pela melhor sopa de cação do mundo.

Tive o caminho todo a cortar o vento para os meus companheiros (como é normal!!)
Se eu aparecesse nesta foto, emoldurava-a em formato A0

Alcaçovas

Apenas faltam 183kms, depois dos 165kms percorridos no dia anterior.

E vamos lá levantar cedo que se faz tarde!!! Creme no cú, óleo da NASA na corrente da bicicleta e directos ao pequeno almoço na pastelaria que ainda não abriu… mas isto não abre às 8:00? Já são 8:17 e está fechada… “Deves pensar que estás na Lourinhã!!! (digo eu, cá para mim)”

Já prontinhos para começar a andar sem o pequeno almoço tomado, lá aparecem os funcionários, ou donos do estabelecimento… vá lá, ainda não é desta que passo fome no Alentejo. Ups!!, se o bidé alentejano lê isto, vou ter que o ouvir… "no Alentejo é que se come bem, é preciso é saber onde ir, e que o Alentejo é a melhor terra do mundo e arredores e …" já não lembro de mais, porque tive que desligar o aparelho auditivo, que estava quase a rebentar com o amplificador.

Lá vamos em direcção e Ferreira do Alentejo, Aljustrel (tirar umas fotos ao maquinista), Castro Verde (puxar as orelhas a uma ovelha), por onde almoçámos, sempre com um dia soalheiro a dar para o quentinho, mas felizmente perfeitamente tolerável. Nota para o estado da estrada nesse trajecto, nomeadamente Aljustrel- Castro Verde, que se encontra num estado perfeitamente deplorável.

O Maquinista
Ferreira do Alentejo

Há toureiros para todas as medidas

Estava cumprida a parte mais aborrecida do caminho, das planícies alentejanas, que de plano não têm nada, para entrarmos no interior algarvio, que tão boa memória me traz, de outra aventura com o bidé africano e do outro elemento que não posso dizer o nome.

Besta sobre besta!!

Este traçado, é para mim, o mais curtido pelas subidas e descidas, com as curvas desenhadas por engenheiros de estrada ingleses, com os “relevês” geometricamente calculados. Senti-me um verdadeiro piloto de pista, numa Famel zundapp xf17 com escape de 80. Muito Bom!!

Serra do Caldeirão

Faltando apenas 40kms para o destino, no topo da serra do caldeirão, estávamos mais tranquilos, porque, segundo um elemento, o qual não posso dizer o nome, era sempre a descer. 

Mais um brinde!!! A partir daqui é sempre a descer!!

E quase que acertava… tirando umas quantas subidas, que já pesavam no aspecto psicológico.

Foi-se impondo um ritmo mais acelerado, com a vontade de chegar ao destino, e derrepente… voilá!! Chegámos à mítica rotunda 738!!

 

ORAF ?? 837??

Missão cumprida, resta a viagem de regresso, não sem antes de montar o puzzle na carrinha e encontrar um sitio para o ultimo repasto. Na falta de ideias e depois de verificar que um restaurante de referencia em Faro se encontrava fechado, lá fomos ao Zé do Peixe assado, em Albufeira, por caminhos interiores, conforme indicação do telemóvel de ultima geração, de uma pessoa que eu não vou dizer o nome, comer umas sardinhas assadas, boas, mas piquenas, e um polvo à lagareiro à moda algarvia.


Feitas as contas, com mais uma voltinha ou engano, foram 750kms, 9.210m de acumulado de subida, em 30h:30m, e uma cagada no mato, repartidos em 4 dias e meio.

A estudar a flora alentejana

A carrinha, que sempre nos acompanhou, com exceção no 2º dia, onde fez uma pequena incursão à Serra da Estrela, foram cerca de 1.700kms, se a memória não me falha.

Resta o agradecimento aos envolvidos, nomeadamente ao Ricardo Rosa, pela disponibilidade, paciência, ajuda, explicação de funcionamento do som estereofónico e tudo o mais, e ao João Galvão, por toda a organização antes e durante o passeio, que tanto o caracteriza, sabendo todos nós, que nem vale a pena tentar ajudar que só vamos complicar. Aos restantes bidés, tal como eu, resta-nos aturar-nos uns aos outros e prontos a desafiarmos a um novo desafio.

JAS