Tal como todos nós que por cá andamos, as voltas também têm
as suas histórias. Umas mais dramáticas, outras mais entusiastas, outras iguais
a muitas outras, outras com uma história sem história. Esta volta foi uma
daquelas com uma história dos tomates, daquelas que me vai ficar para
a memória. E não o foi por o Rui ter gaguejado comó camandro, foi mesmo por uma
meia dúzia de minutos que me fez subir o
ego, que ultimamente tem andado lá em baixo.
Na subida da estrada Bucelas-Cabeço da Rosa, quando estávamos
a passar junto da entrada da construtora do Tâmega, começamos a ouvir um zumzum
a aproximar-se. Olhámos para trás e observámos uma italiana bem encorpada a
aproximar-se. Vinha de verde, bem equipada, em esforço, mas com uma expressão incólume,
como se nada estivesse a acontecer (e não estava, apenas sou eu a fazer um
granda filme), bem vistosa, digamos que daquelas que temos que desembolsar uns
2.000€ para dar umas voltinhas. Assim que sentimos a sua aproximação, digo ao Rui: “Embora, encosta à roda!!”. Aumento a cadência, para
conseguir entrar no cone, mas ela começou a demorar a aproximação. Espreitei no
canto do olho e confirmo que o seu ritmo estava abaixo da cadência que
apliquei. Percebendo que poderia disputar mais uma taça para o meu museu, comecei
a pensar que aquela aproximação repentina merecia uma picardia e assim foi.
Continuei com o ritmo aumentando-o progressivamente, enquanto a subida se
tornava cada vez mais íngreme Fui tentando manter o ritmo elevado, conseguindo
perceber que a distância entre eu e a italiana aumentava, estando esta cada vez
mais em esforço, a adivinhar pelas suas constantes mudanças de engrenagens que
ainda assim conseguia ouvir. Já com a topo da subida à vista, que quem anda
nestas andanças deduz que a meta é aí, depois de uma curva à direita e com a
inclinação a diminuir, senti uma ligeira aproximação tendo que, já num esforço
a roçar o desmaio, aumentar ainda mais o ritmo. Os últimos 50m pareciam 500,
nunca mais chegava ao fim e sentia que podia quebrar a qualquer momento, sendo
a pressão da italiana constante e numa aproximação progressiva. Já apenas
olhava para o alcatrão, não levantava a cabeça para não perder a concentração.
Mais um esforço e VITÓRIA!!!!, festejada efusivamente. Consegui!! A Italiana
pouco ou nada me ligou, sempre com uma fachada sem expressão, com um andamento
elegante e recto Nem um ciao, nem um bacamarte, nem um sinal. Esperei um pouco
pelo Afro sacavenense Lapierre que assistiu ao desafio ainda tentou encostar-se
à italiana, mas sem sucesso (acho que ainda rugiu nessa aproximação). Perguntei-lhe se tinha tirado uma foto (disse-me que se tinha esquecido de mudar
o rolo) e lá nos fizemos ao restante caminho, comigo todo contente e com os créditos
todos em alta.
Sempre por estrada até Sacavém, já pensava em como conseguir
contar esta história a quem não estava presente. E para terem ideia da
italiana, ainda fui procurar na net se ela era conhecida, pois para andar por
estas bandas, tem mesmo que o ser. Não foi difícil, apereceram várias imagens,
reconhecia-a de imediato: foto
italiana
JAS